O Eng.º Armando Silva Afonso é professor no Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro. Aprensentará uma comunicação intitulada «Integração de soluções de sustentabilidade nas instalações prediais de água: dois casos de estudo» integrada no painel Conservação e Uso Racional da Água a realizar-se no dia 23 de Fevereiro
ABSTRACT
A água tem-se tornado um recurso da maior importância. Devido não só ao crescimento demográfico mas, fundamentalmente, ao desenvolvimento económico e ao estilo de vida da civilização actual, a água potável é hoje um recurso escasso que, de bem comunitário e patrimonial, se transformou ao longo das últimas décadas em bem económico. As alterações climáticas têm agravado este cenário e prevê-se que, em muitos países, como Portugal, a previsível redução da precipitação ou a alteração do seu regime possam a curto/médio prazo criar graves situações de crise. Sendo um bem finito e essencial à vida, o seu uso racional, a todos os níveis, tornou-se uma prioridade.
Na presente comunicação apresentam-se dois casos de estudo sobre projectos em curso visando implementar o uso eficiente da água em instalações hidráulicas e sanitárias prediais. O primeiro reporta-se ao projecto “Casa do Futuro”, que é um projecto de pesquisa interdisciplinar que integra um grupo de 12 empresas da região de Aveiro e vários departamentos da Universidade de Aveiro. A rede de cooperação da “Casa do Futuro”, designada por “AveiroDomus” foi criada em 1999, sendo o promotor principal a Universidade de Aveiro. As metas estratégicas do projecto “Casa do Futuro” são o desenvolvimento de novas concepções no âmbito da habitação e a criação de condições para construir, a curto prazo, uma possível casa futurista. Está claro que a casa deve ter um projecto avançado, mas o objectivo principal é construir de acordo com padrões sustentáveis da construção, garantindo, entre outros objectivos, a optimização do ciclo predial de água. É do conhecimento geral que o uso de água nas habitações exige requisitos diferentes de qualidade, criando assim oportunidades para utilizar diferentes fontes de abastecimento de água, dependendo a qualidade necessária do respectivo uso específico. Na “Casa do Futuro”, com vista a reduzir, ao mínimo, o consumo de água proveniente da rede pública, foi previsto um sistema com reciclagem parcial das águas residuais domésticas. Paralelamente serão adoptados dispositivos de baixo consumo aliados ao uso de fontes alternativas como, por exemplo, o aproveitamento de água da chuva. No caso concreto da “Casa do Futuro”, dada a proximidade entre o terreno de implantação e os canais da Ria de Aveiro, foi considerada ainda a possibilidade de utilização de água salgada e de águas freáticas (possivelmente salobras). No segundo caso de estudo descrevem-se os modelos de Certificação Hídrica (Water-Efficiency) de dispositivos e de instalações hidráulicas e sanitárias que irão ser implementados a curto prazo em Portugal, por iniciativa de uma associação do tipo universidades-empresas recentemente criada, sem fins lucrativos, designada por ANQIP (Associação Nacional para a Qualidade nas Instalações Prediais).
Em Portugal, a necessidade de um uso eficiente da água foi já reconhecida como prioridade nacional, através da publicação do Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água (Resolução do Conselho de Ministros nº 113/2005, de 30/6). Entre as acções propostas neste programa, destacam-se precisamente as propostas de rotulagem dos dispositivos de utilização prediais (autoclismos, chuveiros, etc.), no sentido de disponibilizar aos consumidores o conhecimento da sua eficiência hídrica. A certificação hídrica de dispositivos que se pretende implementar em Portugal terá carácter voluntário e atenderá, em linhas gerais, aos modelos que foram já criados em diversos da União Europeia (Irlanda, Reino Unido, Países Nórdicos, etc.) e noutros países fora do espaço europeu, como os Estados Unidos e a Austrália. Já no que se refere à certificação de instalações, pretende-se estabelecer um modelo original, que eventualmente poderá integrar a avaliação da eco-eficiência global dos edifícios, a qual já é objecto de certificação em diversos países, mas que poderá também constituir uma certificação independente.